Espaço Hæresis Freud

Coordenação: Germano Almeida

 Ler Freud.

Existem palavras que pairam ao redor da leitura de textos freudianos, dentre elas introdução, novidade e originalidade. Em uma leitura rápida, essas palavras escondem equívocos. Detenho-me em uma leitura que conversa o significado delas, testemunhando uma devoção perigosa.

Antes de qualquer outra coisa em psicanálise, é preciso por em conta a condição daquilo que apareceu e se apresentou, daquele modo, pela primeira vez na pena do autor Freud. Ele que é um dos “maiores estilistas da língua alemã, tendo ganhado o prêmio literário “Goethe”, […] era um exímio criador e inovador de termos” (Comentários do Editor Brasileiro, Luiz Alberto Hanns, ao texto Além do Princípio do Prazer, Freud 1920/2006, p. 133). Trata-se de uma introdução, quando esse pontapé freudiano dá início a uma referência, um ponto de origem, de proveniência, desse campo teórico, clínico e metodológico elaborado extensamente pelo autor em questão.

Além de reconhecer, é necessário, também, estranhar alguns vícios de leitura arriscados e que se atrelam aos sentidos das palavras introdução, novidade e originalidade. A palavra introduzir significa, também, dar início a um caminho de explanação de idéias que vai da mais simples e generalizada na direção da mais complexa e específica. Consequência dos efeitos desse sentido introdutório é a posição que a leitura da obra freudiana pode ocupar, erroneamente, como um conjunto de textos mais simples, de fácil compreensão, de menor valência, adequados para quem está iniciando a formação.

Outra armadilha é ler na palavra novidade “A boa nova”, como algo que convoca ao alastramento, enquanto promessa de coesão, de sabedoria do inconsciente e das coisas necessárias para que alguém venha a ser psicanalista. Nesse sentido incorremos no risco de esperar do texto freudiano os passos para uma conclusão, o percurso para uma conceituação final em sua obra, um desfecho totalizante que transforma o aluno em mestre, interpretador das formações do inconsciente: Fulano concluiu a psicanálise freudiana.

Outro risco é o sentido da originalidade, onde o texto pode ser tomado como aquele objeto que presentifica o ideal, a partir do qual se criam cópias, uma imagem destinada a reprodução em simulacros. Uma das expressões mais comuns disso é a repetição de jargões da psicanálise e da tentativa de explicar as inúmeras mazelas da vida cotidiana a partir de um belo discurso baseado nas leituras de textos freudianos.

As provocações acima evocam uma escolha, uma proposta de trabalho, a de traçar outros caminhos ao percorrer os textos freudianos, caminhos que respeitem a originalidade, no sentido de enfrentar a complexa linha textual que se engendra no decorrer da escrita freudiana. Uma escolha de leitura que respeite a impossibilidade de determinação, em especial do que precisaria ser lido em Freud antes ou depois, um traçado a partir do desejo de insistir em se constranger na leitura de Freud. Uma direção de trabalho de leitura que priorize a posição do leitor frente ao que lê, em especial levando em conta o agora, o contemporâneo e o que fazemos com essa invenção da psicanálise na invenção de uma prática clínica.

A novidade freudiana é preciso fazer referência a ela ao nos nomearmos psicanalistas, situando-a na complexidade que ela presentifica, a dificuldade de fazer escrita da inauguração do inconsciente como proposta de teoria, clínica e método.

No ano anterior, iniciamos o Espaço Haeresis Freud, onde trabalhamos os FUNDAMENTOS DA CLÍNICA PSICANALÍTICA, a partir da coleção Obras Incompletas de Sigmund Freud, pela Editora Autêntica. Neste ano, a proposta é dar continuidade aos textos do volume citado.

 

Referências Bibliográficas

 

FREUD, S. (1920). Além do princípio de prazer. In: Luiz Alberto Hanns (Trad.) Obras psicológicas de Sigmund Freud – Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente (1915-1920). Rio de Janeiro: Imago, 2006, v. 2, p. 135-136.

 

FREUD, S. (1856-1939). Fundamentos da Clínica Psicanalítica. Belo Horizonte: Editora Autêntica. 2017. 1ª edição.


Dos encontros: Realizaremos encontros quinzenais, aos sábados, das 09:00 h às 10:30 h, no espaço da Hæresis Associação de Psicanálise, localizado à  Rua Francisco Vicente Ferreira, 282 – Uberlândia(MG). Datas previstas: 03/03; 17/03; 14/04; 28/04; 12/05; 26/05; 09/06; 04/08; 18/08; 15/09; 29/09; 06/10; 10/11; 24/11; (continuando em 2019).

Informações sobre valores e contato com responsável pelo Espaço, pelo e-mail: haeresispsicanalise@gmail.com

Vagas Limitadas.