Espaço Hæresis de história e transmissão da Psicanálise

 

Tema 2018: Formação finita e infinita na escola lacaniana – de Paris ao Sertão da Farinha Podre

 

Na carta de dissolução de sua Escola, em 1980, Lacan afirmou: “Há um problema da Escola. Não é um enigma. Eu me oriento para isso, e já não é sem tempo (…). Trata-se da dissolução. (…) Em outras palavras, eu persevero” (p. 319/320). Dias depois da publicação da carta de dissolução, Lacan (1980) declara: “Não espero nada das pessoas e alguma coisa do funcionamento. Portanto é mister inovar porque esta Escola, eu a errei ao ter fracassado em produzir a partir dela analistas que estivessem à altura. “

 

O ponto de basta de Lacan foi um ato analítico. Marcou o fim de uma tentativa de institucionalização da formação do analista, mas não da transmissão em psicanálise. Esses impasses de institucionalização, entre formação e transmissão, insistem em fazer questão no campo psicanalítico. Freud, em Analise finita e infinita (1937), evidenciava sua preocupação com as análises de seus primeiros analistas. Anos antes, Ferenczi (1930) havia se queixado com Freud sobre seu processo de análise, acreditando que não havia chegado ao fim. Começou a trabalhar com os problemas do fim de análise e abriu um espaço entre os primeiros analistas para questionar as balizas que determinariam o final de análise, especialmente dos analistas. No texto de 1937, Freud colocava a trabalho essa discussão e parece ter indicado que conceitos como pulsão, resto e impossibilidade davam um norte para a elaboração de algumas respostas aos impasses do campo freudiano.

 

Na década de cinquenta, Lacan havia dado início a sua Escola a partir desse impasse herdado do ensino freudiano, em seu tempo de analista didata na IPA. Ele fundou o campo lacaniano em busca de saídas para (1) o problema do final de análise, (2) o impasse nas análises dos analistas e, sobretudo, (3) o sucesso na formação das primeiras gerações de analistas pela IPA, que, produzindo analistas ideais, fracassava na transmissão da psicanálise freudiana – a afirmação inconsciente em sua radicalidade.

 

“Eu me esforcei em demonstrar como se especifica o inconsciente freudiano. Aos poucos, os universitários tinham conseguido digerir o que Freud, por outra parte, com muita habilidade, tinha se esforçado em tornar-lhes comestível, digerível. Freud mesmo se prestou a isso ao querer convencer”.

 

Lacan ia na contramão do campo freudiano: falava para poucos, usava uma linguagem nada didática e construiu dispositivos específicos para sua escola, como o cartel e o passe. No entanto, trinta anos depois, algo insistia em não se inscrever. Era disso que a psicanálise tratava, afinal.

 

O que o fracasso da escola de Lacan e os impasses das analises infinitas no campo freudiano nos ensinam sobre a transmissão da psicanálise? Com quantos dispositivos se (des)constrói um analista? O que tudo isso tem a ver com o campo psicanalítico em Uberlândia?

 

Com essas questões, abrimos os trabalhos do espaço de história e transmissão da psicanálise no ano de 2018. Vamos percorrer alguns textos de Lacan dos Escritos e Outros Escritos, tendo como eixo central as tentativas de formalização dos dispositivos de formação, para acompanhar o que insiste diante de todos os problemas e fracassos deste no tempo lacaniano.

 

“Todos julgam ter uma idéia suficiente sobre a psicanálise. O inconsciente, ora, é o inconsciente. Todos sabem agora que existe um inconsciente. Não há mais problemas, mais objeções, mais obstáculos. Mas o que é esse inconsciente? (…). No fim das contas todos concordam, a psicanálise é um assunto encerrado, mas, para os psicanalistas, não pode sê-lo”. (Lacan, 1967)

 

 

Referências Bibliográficas

FREUD, S. (1937) Análise finita e infinita. In Fundamentos da Clínica Psicanalítica, Obras Incompletas de Sigmund Freud. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.

FERENZCI, S. (1928) Problemas do fim de análise.

LACAN, J. (1980) Carta de dissolução. In Outros Escritos. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 2001.

LACAN, J. O triunfo da religião. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2005.


Dos encontros: Realizaremos encontros quizenais, aos sábados, das 09:00 h às 10:30 h, no espaço da Hæresis Associação de Psicanálise, localizado à  Rua Francisco Vicente Ferreira, 282 – Uberlândia(MG). Datas previstas: 10/03; 24/03; 07/04; 05/05; 19/05; 02/06; 16/06; 11/08; 25/08; 22/09; 20/10; 01/12 (continua em 2019).

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